MASS II FEVE 10 anos
Título: Análise de longo prazo da fração de ejeção ventricular esquerda em pacientes com doença arterial coronária multiarterial submetidos a tratamento clínico, percutâneo ou cirúrgico: 10 anos de seguimento do estudo MASS II
Revista: European Heart Journal
Mês e ano da publicação: Julho de 2013
Objetivo: Avaliar as alterações na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), através de ecocardiografia sequencial, em pacientes com DAC multiarterial função ventricular esquerda inicialmente preservada, que se submeteram à angioplastia, cirurgia ou tratamento clínico.
Grupos de comparação: ICP (n=131) vs cirurgia (n=111) vs tratamento clínico (n=108)
Métodos:
– Período de recrutamento dos pacientes: 1995-2000
– Desenho do estudo: Estudo MASS II foi um estudo randomizado, unicêntrico, controlado. Esta análise em questão é uma análise observacional, prospectiva.
– Seguimento: média de 10,32 anos
– Pacientes recrutados: N=350
Critérios de inclusão: Pacientes com DAC multiarterial com estenoses > 70% e função ventricular esquerda preservada.
Critérios de exclusão: Pacientes com necessidade de revascularização; aneurisma ventricular; FEVE < 40%; história de ICP ou cirurgia de revascularização do miocárdio; contraindicação à ICP ou cirurgia de revascularização do miocárdio.
Dados do baseline:
Características | ICP | Cirurgia | Tratamento clínico |
Idade (anos) | 58,4 | 58,1 | 57,8 |
IAM prévio (%) | 50,4 | 43,2 | 38,0 |
HAS (%) | 58,8 | 57,7 | 49,1 |
DM (%) | 24,4 | 36,0 | 34,2 |
Angina (%) | 92,3 | 89,2 | 80,6 |
Teste de esforço positivo (%) | 55,8 | 53,5 | 49,5 |
DAC biarterial (%) | 42,0 | 43,2 | 45,4 |
DAC triarterial (%) | 58,0 | 56,8 | 54,6 |
DAC biarterial com lesão em ADA proximal (%) | 78,2 | 77,1 | 85,7 |
Resultados:
O desfecho primário do estudo foi avaliação sequencial da FEVE. Desfechos secundários: eventos cardíacos adversos maiores (IAM; ICP adicional; CRM adicional; desfechos combinados; AVC).
Desfechos | ICP | Cirurgia | Tratamento clínico | p |
FEVE basal | 0,61 | 0,61 | 0,61 | 0,67 |
FEVE após 10 anos | 0,56 | 0,55 | 0,55 | 0,67 |
Delta de redução (%) | -7,2 | -9,08 | -7,54 | 0,63 |
IAM (%) | 9,9 | 8,1 | 14,8 | 0,25 |
ICP adicional (%) | 27,5 | 9,0 | 13,9 | <0,001 |
Cirurgia adicional (%) | 11,4 | 3,6 | 28,7 | <0,001 |
Eventos combinados (%) | 48,4 | 20,7 | 57,4 | <0,001 |
AVC (%) | 2,3 | 6,3 | 5,5 | 0,27 |
Perspectivas: Esta subanálise do estudo MASS II mostrou que independentemente do número de artérias comprometidas, e mesmo com o envolvimento da artéria coronária descendente anterior, a função ventricular permaneceu dentro dos valores normais. Além disso, pode-se notar pelos resultados que houve uma redução homogênea da função ventricular esquerda nos 3 grupos de tratamento. Porém, este redução não apresentou magnitude suficiente para interferir na normalidade da função ventricular. Assim sendo, 2 aspectos chamam a atenção:
1) Ambas as estratégias intervencionistas (cirurgia e angioplastia) não tiveram papel relevante na proteção do miocárdio isquêmico;
2) Pacientes com DAC multiarterial mantidos em tratamento clínico não perderam função ventricular, a menos que tivessem apresentado um evento coronário agudo. Apenas pacientes que apresentaram um infarto do miocárdio apresentaram comprometimento da função ventricular. Desta forma, este estudo apresentam-se como uma mudança de paradigma da ideia de que somente através da revascularização do miocárdio é que se preveni a disfunção miocárdica de origem isquêmica. Isso mostra que o rigoroso controle clínico e dos fatores de risco tem um papel importante no manejo de pacientes com DAC crônica.
Conclusão: Em relação à terapêutica aplicada, a FEVE permanece preservada na ausência de eventos adversos cardíacos maiores após 10 anos de seguimento.
Financiamento: O estudo foi patrocinado pela Zerbini Foundation, São Paulo, Brazil.
Referência: Garzillo CL et al. Long-term analysis of left ventricular ejection fraction in patients with stable multivessel coronary disease undergoing medicine, angioplasty or surgery: 10-year follow-up of the MASS II trial. Eur Heart J 2013;34(43):3370-7.